domingo, 19 de junho de 2011

Você precisa se esforçar mais para ser bailarina

Eu conheço uma menina de 15 anos que acaba de ganhar um par de sapatilhas de ponta novinhas de presente de aniversário.
Ela não pediu que lhe dessem um IPod, um IPhone, uma viagem pra Disney, ela queria desesperadamente um par de sapatilhas de ponta novinhas em folha.
Essa sapatilha ou nada.
Surpresa?

Não fique.

Você também já deve ter feito alguma loucura parecida para ter ferramentas para a performance necessária para o seu bom desempenho e ser amada pela galera.
O problema é que esse desespero maluco das pessoas em ser amadas por todos a sua volta está levando o mundo da dança clássica à falência. Você sabe, eu sei, a minha filha sabe, todo mundo sabe: ao tentar ser tudo para todos você acaba sendo nada pra ninguém.
Esse negócio de ser solista ou primeira bailarina de uma companhia não tá com nada. Ser bailarina de corpo de baile não é uma coisa ruim, afinal, imagine só uma companhia apenas com solistas. De fato, também é uma coisa boa pra você, para quem te ama, para o público e finalmente para o ballet clássico.
É bom para você porque finalmente você está defendendo alguma causa que realmente mexe com as pessoas, o ballet clássico. Agora você está exposto, e tem que fazer alguma coisa para provar a todos que todo seu esforço e trabalho fazem sentido.
É bom para quem te ama, porque faz as pessoas se emocionarem, mexerem com os seus neurônios do cérebro para – no mínino – refletirem seriamente sobre suas próprias crenças.
Se todos gostam de sua dança como se fosse água com açúcar, é porque você ainda não chegou em uma performance arrojada, você não passa de uma bailarina commodity.
Se você tem uma vontade genuína de mexer com o status quo, se expor, e expor as coisas erradas que precisam de mudanças, eu recomendo que você pratica no seu dia-a-dia as seguintes idéias:
1. Você deve se importar mais do que as outras pessoas pensam que é bom;
2. Você deve se arriscar mais do que as outras pessoas pensam que é seguro;
3. Você deve ser mais compreendida do que as outras pessoas pensam que é comprometida com o ballet.
4. Você deve ser mais arrogante do que as outras pessoas pensam que é aceitável quando o assunto é ballet.
5. Você deve sonhar mais do que as pessoas pensam que é prático.
Se você está me odiando por dizer essas coisas, a bailarina sentada ao seu lado está amando.
Pergunte para ela, ou envie o texto para alguém que você conhece, a reação será completamente diferente da sua.
Se você quer realmente mexer com as coisas, você precisa, como eu, incomodar as pessoas, fazê-las se emocionar.
A dança que importa, o resto...



Ivan Grandi

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